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Já lá vão muitos
pares de anos, que um homem, ainda na flor da vida, bem apessoado a de
formas viris, aportou a um pequeno casal, situado na encosta de uma serra,
íngreme a coberta de matagais quási inacessíveis. O dia era inclemente:
chuva, frio a vento, tinham vergastado o pobre caminheiro, que pediu
abrigo no primeiro casebre que se lhe deparou, coberto de lousa e o cume
colmado por causa das avalanches de. neve que caíam de inverno.
Os moradores acolheram-no muito bem, fazendo-o sentar no canto mais
agasalhado da lareira, onde ardia uma grande pirâmide de cepas de urgueira,
que espalhavam em volta um calor vivificante. Enquanto lhe enxugavam a
roupa a escorrer água, foram-lhe, contando que aquele casal se chamava
Póvoa de Pomares a pertencia à paróquia de Aldeia das Dez; que havia ali
uma capela onde se venerava uma imagem da Virgem, cuja invocação era Nossa
Senhora das Preces, muito milagrosa e muito venerada em fartas léguas em
redor; que os romeiros eram aos cardumes em dias de romaria; que esta
imagem fôra encontrada no cume do monte por uns pastorinhos, que
apascentavam os seus rebanhos e a trouxeram para baixo, mas que ao outro
dia lá a foram encontrar novamente. Fizeram-lhe uma capelinha e aqui outra
mais espaçosa e rica, onde agora está.
Depois, deram-lhe
farta tigela de mel uma broa para ir partindo e ensopando nele e uma
garrafa de aguardente de medronhos, tudo para atirar com o frio fora do
corpo, diziam.
A chuva acossada pelo vento, continuava a fustigar a porta e janelas da
casa e a rufar estranha música nas lages do teto, enquanto a neve se
peneirava e ia embranquecendo as terras em volta.
O peregrino, depois de enxuto o fato e confortado o estômago, desejou ir
ver o enaltecido santuário de que tanto lhe tinham falado a estava a uns
passos. Acompanharam-no pequenos a grandes; cobertos com capuchas de
burel, para se abrigarem do temporal. Também deram um ao hospede a lá
seguiram para a capela. Parecia uma comunidade de nova ordem com os seus
hábitos vestidos, em procissão para «completas».
Ajoelharam ante o altar da milagrosa imagem e o peregrino, em voz alta,
disse, palavras de saudação a agradecimento à Virgem, que deixaram
admirada, aquela boa. gente serrana e inculta. Só em dias de romaria, ao
evangelho, o pregador as sabia assim dizer.
Vieram outra vez para a lareira a como a ceia estivesse pronta, dispôs-se
a larga mesa que se , estendia frontal enegrecido acima a se punha
horizontal com os assentos que a circundavam. Todos ficaram aconchegados à
mesa, vindo por baixo dela um calor agradável que beneficiava a aquecia os
convivas.
Sobre ela estenderam alva toalha de linho a cheirar a alfazema a em cima
malgas de barro vidrado, com risco azul em volta, cheiinhas de caldo de
couves com feijão vermelho, a cheirar bem, a fumegar, a desafiar o
apetite.
Esmigalharam-lhe broa por cima, que iam caldeando com garfo alentado de
ferro. Depois grossa bacia de estanho cogulada de castanhas cozidas. Uma
infusa cheia de vinho clarete a saltar, passava de mão em mão, enchendo
cada um seu copo tosco de chifre a iam bebendo.
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